Isto
É
Trechos de conversas obtidas pela
Polícia Federal durante operação que investigou esquema de exploração ilegal de
jogos mostram como era próxima a ligação entre o contraventor e o senador da
oposição
Por: Rodrigo Rangel
Gravações da PF revelam novos favores de
Carlinhos Cachoeira a Demóstenes Torres (Montagem)
Novos
trechos de conversas gravadas pela Polícia Federal durante a Operação Monte
Carlo, que investigou um esquema de exploração ilegal de jogos com sede em
Goiás e negócios em Brasília e outros estados da federação, dão mostras da
intimidade entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o contraventor Carlos
Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de ser o chefe da quadrilha. Os
diálogos, aos quais VEJA teve acesso, revelam novos favores do contraventor ao
senador de oposição. Num deles, gravado em maio do ano passado, Cachoeira avisa
ao senador: “Não esquece do avião, não, tá aí esperando, tá?”. Em outro
telefonema, também do ano passado, ao ouvir de Demóstenes a queixa de que seu
tablet iPad acabara de quebrar, Cachoeira é diligente na solução: diz que vai
mandar alguém entregar um aparelho novo ao senador.
A conversa em que Cachoeira se refere ao
avião é datada de 20 de maio de 2011, uma sexta-feira, e foi registrada nos
relatórios da Polícia Federal sob o título “Carlinhos oferece aeronave para Demóstenes”:
Demóstenes - Fala, professor.
Cachoeira - Não esquece do avião não, tá
aí esperando, tá?
Demóstenes - Já liguei pra ele, tô indo
lá, dei uma enrolada aqui.
O diálogo em que Cachoeira diz que
providenciará um tablet novo para o senador se deu duas semanas depois, em 4 de
junho. Num dos relatórios da operação, a PF resumiu assim a conversa:
“Demóstenes reclama que seu iPad deu pau, Carlinhos diz que vai mandar alguém
entregar um novo”. No mesmo telefonema, Demóstenes diz a Cachoeira que está se
dirigindo ao aeroporto “para buscar o Toffoli”. De acordo com fontes ligadas à
investigação, trata-se do ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal.
Em 11 de agosto de 2011, Cachoeira e
Demóstenes conversam sobre o que seria, na avaliação do senador, “um tiro
direto” no PT. Demóstenes fala em em abrir uma comissão parlamentar de
inquérito para investigar o partido do governo:
Cachoeira – Eu vi, eu vi as cenas lá,
hein?
Demóstenes – É... Isso é bom, hein. Isso
é bom que dá um tiro direto neles aí né, a gente faz a CPI do PT.
Cachoeira – Exatamente. Beleza.
Demóstenes – Falou mestre, um abraço.
Cachoeira – Outro, doutor. Tchau.
Em outra conversa, Cachoeira fala com a
mulher de Demóstenes, Flávia, que comemora a obtenção de sua carteira da Ordem
dos Advogados do Brasil e trata com o contraventor da possibilidade de o
senador se transferir para o PMDB. Cachoeira se mostra favorável à mudança de
partido – e também confiante de que um dia seu amigo Demóstenes possa se tornar
ministro da Suprema Corte.
Flávia – Tô com a vermelha no bolso,
32.650, pode arrumar cliente aí pra mim (...) Tô com a vermelhaça no bolso
(...)
Cachoeira - Ah, sua carteira, né?
Parabéns, viu? Você vai usar ela muito e só em causa grande.
Flávia – Eu fui num jantar no Sarney com
o Demóstenes, o Demóstenes hoje é um dos influentes que existem no quadro
nacional todo, tem trânsito com todo mundo.
Cachoeira – É, sei disso. Ele já foi pro
PMDB não?
Flávia – Não, mas o Renan [refere-se a
Renan Calheiros, um dos caciques do PMDB] tá todo amor por ele que tá é
assustando.
Cachoeira – Ele me falou, você acha que
ele vai?
Flávia – Carlinhos, é uma decisão tão
difícil, né? Acho que uma das decisões mais difíceis que ele tem que tomar é
essa, viu? Muito complicado, eu acho muito complicado.
Cachoeira – É, mas ele não tem saída,
não. Ele tem que ir para o PMDB. Vai fundir o PSDB com o DEM, aí ele tem que ir
pro PMDB, até virar STF, né? Aí você não pode advogar e pronto.
Carlinhos Cachoeira, então, volta a
parabenizar a mulher do senador por ter obtido a carteira da OAB e ela
arremata, agradecendo: “Obrigado. Essa conquista aí é nossa. Depois vamos tomar
um champagne”.
Há três semanas, VEJA revelou que
Demóstenes recebeu de presente de casamento de Cachoeira uma geladeira e um
fogão importados, de uma marca americana de luxo que usa como chamariz em suas
propagandas o fato de estar presente nas casas de astros de Hollywood e também
na cozinha da Casabranca. Os dois presentes valem mais de 30 mil reais. Durante
a investigação, a Polícia Federal descobriu que Cachoeira e Demóstenes se
falavam por meio de um rádio Nextel habilitado em Miami, nos Estados Unidos.
Era uma estratégia do contraventor, segundo os investigadores, para dificultar
grampos.
Na edição desta sexta-feira, o jornal O
Globo mostrou que em outra investigação, feita em 2009, Demóstenes Torres
aparece aceitando favores de Cachoeira em suas viagens de avião: o senador
pedia que o contraventor pagasse uma despesa sua com táxi-aéreo, no valor de 3
mil reais.
Procurado por VEJA, Demóstenes não
atendeu as ligações. Sua assessoria informou que ele não está dando entrevistas
sobre a investigação. E repassou a tarefa ao advogado do senador, Antônio
Carlos Almeida Castro, criminalista estrelado de Brasília, também conhecido
como Kakay. O advogado diz que não falará pontualmente sobre os diálogos sem
antes ter acesso à integra das conversas envolvendo Demóstenes. Ele afirma que
há doze dias esteve pessoalmente com o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, para pedir acesso às escutas, mas até hoje não foi atendido. “Ou essas
conversas são triviais e não têm indício de crime ou os encarregados da
investigação teriam que ter passado isso imediatamente para o Supremo Tribunal
Federal, por envolver um senador. Se isso não foi feito, a investigação é
ilegal”, diz o advogado.
“O Senador DEMÓSTENES TORRES, aos olhos
da justiça é mais um dos políticos que sobrevive na CORRUPÇÃO. Alguns
integrantes da OAB por sua vez não fica atrás, maculando a boa imagem corporativa
do conselho de classe que é a OAB. Brasil
mostra tua cara!! (grifo nosso)”
Fonte: Veja
Extraído: Em 26 de março de 2012, FENAPEF - (Federação
Nacional dos Policiais Federais).
Nenhum comentário:
Postar um comentário